São Paulo, 09/01/2014 – Após não receberem o pagamento de juros dos bônus da construtora OAS, os credores externos se organizam para montar um comitê para terem mais força na negociação com a companhia, alvo das investigações da Operação Lava Jato. À medida que reduz o prazo para um possível acordo, o risco de a empresa entrar em recuperação judicial começa a ser considerado “altamente provável” por bancos, investidores e advogados ouvidos pelo Broadcast.
A OAS, uma das pontas mais fracas entre os grupos atingidos pela crise que eclodiu diante da denúncia de esquema de cartel e corrupção em obras da Petrobras, já apresentava alta alavancagem e, assim, pode ter aproveitado, segundo fontes, um momento político para forçar a reestruturação de suas dívidas, que chegam a R$ 7,7 bilhões em valor bruto. Mais do que isso. Executivos de bancos já consideram, nos bastidores, que a própria OAS prefere ir para a recuperação judicial.
No mercado local, a empresa já é tida como inadimplente, após não ter honrado o pagamento de uma debênture no montante de R$ 100 milhões. No mercado externo, porém, a OAS ainda tem 30 dias de carência, a contar de 02 de janeiro, para pagar os juros dos bônus e evitar um “default”. O próximo vencimento de juros dos bonds da companhia será em 19 de abril, referente a uma emissão de US$ 875 milhões, com prazo final em 2019.
Em conversas com credores ao longo desta semana, a empreiteira prometeu apresentar um acordo de renegociação de suas dívidas em até 60 dias. O prazo, porém, é considerado curto, de acordo com investidores e gestores de renda fixa, para que o grupo consiga se desfazer de ativos como, por exemplo, a participação que detém na Invepar, fatia de sua empresa de saneamento, a OAS Soluções Ambientais, ou suas arenas.
“Vai ser um desafio. O tempo é curto. O principal ponto é a OAS conseguir evitar que os credores acelerem sua dívida. Se isso acontecer, não terá alternativas senão a proteção judicial”, diz um gestor de renda fixa estrangeiro.
O advogado especialista em recuperação judicial Miguel Neto explica que a empresa, para ingressar com pedido de recuperação judicial, precisa mostrar que passa por um problema de fluxo de caixa, mas que sua continuidade é possível e, ainda, benéfica tanto para a manutenção de empregos quanto para o interesse dos credores. O especialista diz ainda que, caso o pedido seja aceito pela Justiça, a companhia terá um prazo para apresentar seu plano de recuperação, que deverá ser aprovado por todas as classes de credores, inclusive os trabalhadores.
“Acredito que a OAS pode ser forçada a entrar em recuperação judicial caso tentem (fornecedores ou credores) decretar sua falência”, diz um credor que participou das negociações essa semana.
Questionada sobre possíveis planos de pedido de recuperação judicial, a OAS reiterou que, “em função das dificuldades de acesso ao mercado de crédito, está em discussões com alguns de seus principais credores de forma a possibilitar uma reestruturação financeira organizada” e acrescentou que “pretende apresentar um plano de reestruturação financeira a todos seus credores até fevereiro”.
O não pagamento dos juros externos e o calote no mercado local, embora já fossem possibilidades consideradas por alguns, surpreenderam parte de investidores tanto no Brasil como lá fora. Isso porque em dezembro a OAS convocou teleconferência com os credores e prometeu honrar os compromissos financeiros, antecipando, inclusive, a alternativa de venda de ativos.
A OAS explicou, por meio de nota enviada ao Broadcast, que na divulgação de seus resultados, em 15 de dezembro, “acreditava no cumprimento de suas obrigações financeiras com base nas condições do mercado de crédito daquele momento, bem como em função das notas de rating que possuía” e disse que o rebaixamento de rating ocorrido após essa data impediu que a companhia cumprisse com sua promessa.
Bônus
No mercado externo, os bônus da companhia negociam a cerca de 15% do valor de face, sem juros, ou seja, como se a empreiteira já estivesse inadimplente. Após as prisões de executivos de empresas investigadas na Lava Jato, como o presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, os papéis da empresa despencaram de 90% do valor de face para 30% em três dias, segundo um gestor. “Essa queda mostrou que o mercado antecipou o pior. Nos últimos dias, os volumes negociados subiram, os detentores de bonds originais, que em maioria eram os private banks, estão vendendo e fundos que se especializam em dívida reestruturada têm comprado”, conta.
Essa migração, conforme Guilherme Cruz, sócio da Brazilwood, é natural. Diante de eventos como o da OAS, segundo ele, os investidores se protegem com títulos de companhias de menor risco. “Existe ainda uma desconfiança enorme referente à Lava Jato e as empresas envolvidas; não se sabe, de fato, o real problema”, lembra Cruz.
A OAS tem US$ 1,775 bilhão em bônus emitidos, sendo US$ 500 milhões em perpétuos, US$ 400 milhões em bônus seniores não garantidos com vencimento em 2021 e US$ 875 milhões em bônus seniores não garantidos com vencimento em 2019. Entre os fundos que mais detinham bônus da empresa brasileira, conforme fontes, estavam a gestora dos EUA AllianceBernstein, a inglesa Aberdeen Asset Management e o BTG Pactual Chile.
“O evento OAS está pesando na curva de bonds brasileiros em geral. Existe muita desconfiança em relação ao Brasil por conta de casos recentes como Cruzeiro do Sul, OGX e Grupo Rede. A percepção é que os bondholders (detentores de bônus) estrangeiros acabam sendo os maiores perdedores”, diz um gestor.
Depois de deixar de honrar seus compromissos financeiros nos mercados externo e local, a OAS recebeu novos rebaixamentos pelas principais agências de classificação de risco, que também consideram como provável a recuperação judicial. O rating da Fitch, “RD”, é o último antes do “D” concedido a emissores que recorrem a esse tipo de socorro. Enquanto a Fitch Ratings considera improvável que os credores aceitem renegociar suas dívidas, a Standard & Poor’s acredita que o default da OAS é “quase certo”.
Um investidor que detém bônus de duas emissões da OAS acredita que a empreiteira deve fazer proposta de um corte de ao menos 30% na dívida com alongamento dos prazos. Em geral, companhias com dificuldades tentam rolar suas dívidas, mas, para isso, pagam taxas maiores. Ele não acredita, porém, que esse será o caso da OAS, já que a empresa, ao não honrar seus compromissos financeiros, indicou ser inidônea.