Fibra óptica neutra cria novo negócio no Brasil

A criação de redes de fibras ópticas neutras no Brasil está fortalecendo a tendência de um novo tipo de prestador de serviços, o provedor de banda larga sem infraestrutura própria. A neutralidade significa que qualquer empresa pode usar a rede de forma isonômica para chegar ao seu cliente. O modelo atraiu o investidor argentino Gonzalo Fernández Castro, que criou a Obvious Fibra com investidores do Vale do Silício, nos Estados Unidos, e da Europa, principalmente da Suíça. O serviço será lançado hoje no Espírito Santo.

Com plano de atuar por meio digital, sem lojas, a Obvious usa a rede de fibra da V.tal para levar internet de ultravelocidade inicialmente a 35 bairros na cidade de Serra. A rede permite oferecer velocidade de 200 megabits por segundo (Mbps) a 1 gigabit por segundo. Está previsto um período de degustação de 500 Mbps.

O objetivo comercial da startup a partir deste projeto piloto é atender 4 milhões de assinantes em cinco anos, em 23 cidades de oito Estados. Para isso, planeja investir R$ 3 bilhões no período. Os recursos entrarão na empresa à medida que os investidores de private equity, venture capital e executivos seniores do setor de telecomunicações forem aderindo ao projeto.

Castro, diretor-presidente da Obvious, não informa quanto já foi aportado até o momento, diz apenas que foram “dezenas de milhões de reais”. Os recursos são para despesas de capital, tecnologia, colaboradores, entre outros custos. As captações ocorrerão até que a startup amadurecer.

“É uma situação que se pode contratar infraestrutura como serviço, da mesma forma que aconteceu com computação na nuvem. Isso faz com que startups possam levar ao consumidor uma proposta distinta, no nosso caso, digital”, disse o executivo.

O empreendedor esteve à frente, no Brasil, da gestora suíça de private equity Partners Group, com US$ 127 bilhões em ativos sob gerenciamento. Fez investimentos na Centauro e na rede Hortifruti – esta última vendida às Americanas.

No Brasil desde 2013, Castro acompanhou a venda do controle da rede de fibra da operadora Oi (InfraCo, atual V.tal) para a GlobeNet e fundos do BTG Pactual. Embora tenha avaliado a criação da InfraCo e considerado o conceito interessante, não participou da negociação. Mas depois que vendeu suas participações em investimentos e saiu da empresa de private equity, viu a possibilidade de criar um negócio, com uma camada digital e de atendimento, complementar à estrutura da V.tal.

Assim, nasceu a Obvious, com sede em São Paulo, que Castro classifica como uma ‘tel-tech’ – startup de tecnologia em telecomunicações. Com base em análises que fez em big data, identificou o Espírito Santo como ideal para testar o conceito e lançar o serviço. A V.tal responde pela manutenção ligada à engenharia da rede, e a Obvious pela camada de tecnologia que desenvolveu, vendas e atendimento ao cliente. A marca V.tal não aparece para o assinante.

Não há exclusividade com a V.tal. A Obvious poderá contratar as redes neutras da Telefônica, dona da Vivo (FiBrasil), da TIM Brasil (FiberCo), ou ainda de operadoras e provedores regionais.

A V.tal, com a Oi como cliente-âncora, já possui fibra disponível para contratação em frente a 15 milhões de domicílios (“casas passadas”), em 210 municípios do país, diz Pedro Arakawa, diretor comercial da V.tal. Até 2025, estão previstos 32 milhões de casas passadas. Sua expectativa é de que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprove a venda até meados de abril. Assim, os fundos do BTG poderão assumir o controle. Os investimentos previstos são de R$ 30 bilhões até 2025.

A Obvious é o primeiro cliente ‘master’ a entrar nesse modelo de provedor sem rede da V.tal, mas há negociações com duas centenas de provedores regionais no Brasil, segundo Arakawa. Foram assinados mais de 20 contratos com grandes teles e provedores, como Vero, Datora, Master, SoftX, Voa e EasyTV.

Um dos grandes custos de uma operação hoje é a rede, disse Eduardo Parajo, vice-presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet). Os clientes alugam portas de acesso e montam seus negócios. Os pequenos provedores, que não tinham infraestrutura, já estão começando a atuar assim, disse, sem mencionar nomes.

PUBLICADO EM VALOR ECONÔMICO 

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