Varejista informou R$ 352 milhões em dívidas e já contava com proteção contra execuções desde o dia 3 de abril
Cerca de um mês após solicitar proteção contra credores em 3 de abril, a Polishop apresentou pedido de recuperação judicial na 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Foro Central da Comarca de São Paulo, que ainda não foi analisado.
A empresa havia entrado com um pedido cautelar preparatório, concebido integralmente no mesmo dia. Essa é forma de antecipar medidas que seriam implementadas durante o processo de reestruturação. Desde então, os credores foram impedidos de executar dívidas e despejos, além de penhoras e arresto de bens.
Companhias que haviam suspendido serviços para a varejista tiveram apenas 24 horas para retomar restabelecer o funcionamento. Além disso, credores ficaram proibidos de executar cláusulas de contrato que estabelecem vencimento antecipado de dívida por descumprimento de obrigações.
Desde o pedido da tutela até o requerimento de recuperação judicial, mais de dez lojas foram fechadas e aproximadamente 100 funcionários foram demitidos. A empresa alega não ter conseguido negociar uma solução junto aos credores.
José Antonio Miguel Neto, sócio fundador do escritório Miguel Neto Advogados, afirma que o prazo de 30 dias estabelecido pela medida cautelar foi pequeno demais para que a Polishop pudesse negociar com tantos credores.
Ele conta que a empresa já vinha enfrentando alguns problemas financeiros e gastou bastante dinheiro para adequar suas operações, reduzindo o número de estabelecimentos presenciais e colaboradores.
Nos últimos dois anos foram fechadas 210 lojas, com a demissão de 2 mil funcionários. Atualmente, a Polishop possui 49 lojas físicas abertas em shoppings centers e conta com quase 500 colaboradores. Foram informados R$ 352 milhões em dívidas no pedido de reestruturação.
No entanto, o dinheiro investido nesse ajuste veio justamente de financiamentos a juros baixos, que não permaneceram no mesmo patamar por tanto tempo. No momento do empréstimo, a taxa estava de acordo com o tamanho que a empresa teria ao fim das mudanças.
— A taxa de juros quintuplicou. As receitas já não seriam suficientes para pagar as despesas e os custos financeiros. Além disso, o consumo esperado para depois da pandemia não veio — conclui o advogado.
Em entrevista à coluna Capital, do GLOBO, o fundador da Polishop, João Appolinário, mencionou que a empresa ainda estava lidando com problemas decorrentes da pandemia, fora o encolhimento na concessão de financiamento para o varejo depois da crise das Americanas. No entanto, demonstrou confiança na recuperação da empresa.
— Talvez meu erro tenha sido preservar as nossas lojas e empregos por tanto tempo. Mas me comprometi a não demitir na pandemia. E achei que os shoppings voltariam mais rápido. Não voltaram e os alugueis subiram 64% pelo IGPM desde 2019. A conta ficou insustentável — disse no mês passado.
Na mesma conversa, Appolinário contou que aportou R$ 70 milhões na empresa para honrar dívidas não recorrentes e reduzir o endividamento, que chegou a R$ 300 milhões. A ideia da apresentação da medida cautelar era evitar um processo de recuperação judicial, negociando os termos do plano diretamente com os credores.
O economista Luís Alberto de Paiva, especialista em reestruturação financeira de empresas e diretor da Corporate Consulting, diz que os maiores ativos da Polishop são as mercadorias em estoque, porque todos os estabelecimentos presenciais da marca são alugados.
Ele avalia que os problemas financeiros na empresa acontecem diante de uma mudança no comportamento dos consumidores. As fabricantes estão deixando de vender seus produtos por meio de grande redes. Esse modelo tinha como grande vantagem a oportunidade de parcelamentos mais longos.
No entanto, depois da pandemia, as fabricantes encontraram canais de atendimento online que as colocam diretamente em contato com o comprador, diante do estreitamento das margens de lucro.
— O fabricante percebeu que precisaria estar mais próximo do comprador. Todas as indústrias desenvolveram formas mais adequadas para chegar ao consumidor, sem passar pelo varejo — conta.
O economista diz que, devido a essa nova forma de consumo, os shoppings tendem a centralizar suas vendas em produtos que precisam ser testados e experimentados pelo comprador, como roupas e sapatos, além de uma oferta maior de serviços.
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Publicado em O Globo.