[:pt]UMA VIRADA POSSÍVEL?[:en]A POSSIBLE TURN AROUND?[:]

O Aeroporto de Viracopos, em Campinas, poderia ser um modelo de operação no Brasil. Sob o comando, desde 2013, do consórcio Aeroportos Brasil, que tem como controladores a UTC e a Triunfo, foi considerado o melhor aeroporto de cargas do mundo, segundo o prêmio internacional Air Cargo Excellence Awards 2018. Além de ser eleito o melhor terminal de passageiros do País em votação com viajantes realizada pela Secretaria Nacional de Aviação Civil (Anac). Nada disso, no entanto, evitou que a concessionária – dona de 51% de participação, enquanto a Infraero mantém 49% do aeroporto – pedisse recuperação judicial no domingo 6, envergada por dívidas de R$ 2,88 bilhões. Desse valor, 93% são obrigações bancárias, em especial, com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O restante inclui R$ 211 milhões em outorgas em atraso com a Anac, a agência reguladora da aviação.

Internamente, a entrada em recuperação judicial foi motivo de certo alívio pela gestão da concessionária. Agora, a expectativa é a de que a renegociação das dívidas possa acontecer. Segundo fonte próxima das negociações, até o momento, a Anac e o BNDES se mostravam inflexíveis. Mesmo conhecendo as dificuldades financeiras do consórcio, especialmente depois do envolvimento de suas duas controladoras na operação Lava Jato. Enquanto a UTC também passa por recuperação judicial, a Triunfo enfrenta uma recuperação extrajudicial. Com lucro anual de R$ 550 milhões e lucro operacional (Ebitda) em torno de R$ 200 milhões, Viracopos é rentável. Mas não o suficiente para cobrir o vencimento das dívidas. Neste ano, além das outorgas atrasadas, há R$ 300 milhões em juros a pagar. Pelos termos dos contratos de financiamento fechados, a empresa está obrigada a priorizar os empréstimos. Dessa forma, apesar de as dívidas bancárias estarem em dia, as próximas outorgas não deveriam ser pagas.

A única forma de quitar as obrigações seria a injeção de recursos. Mas a UTC e a Triunfo, sob investigação, estão sem acesso a financiamentos e com capacidade limitada para investir. As partes sentaram para mediação e os controladores chegaram a oferecer um aporte de R$ 140 milhões. O caixa atual, em torno de R$ 50 milhões, também seria usado para cobrir as dívidas. No entanto, o acordo não foi fechado. O BNDES e a Anac aceitaram o plano com a condição de haver um seguro-garantia, que não foi aprovado pela seguradora Swiss Re. Como ninguém cedeu, ficou um impasse. Procurados, o BNDES e a Anac não comentaram.

Outra tentativa foi a proposta de devolução da concessão, feita há nove meses. Uma medida provisória, permitindo novas licitações para concessões de infraestrutura devolvidas por empresas em dificuldades, foi aprovada pelo Congresso e depois sancionada em junho de 2017. Mas não foi regulamentada. A preocupação dos administradores de Viracopos seria entregar a concessão sem saber quais são as regras e se teriam algum ressarcimento por investimentos feitos. Depois de meses, a concessionária pediu, em março, uma liminar no Superior Tribunal de Justiça para obrigar o governo a analisar a devolução. Dois dias após do pedido de recuperação judicial de Viracopos, o governo se mexeu e anunciou que vai regulamentar a lei. Mas não há previsão de quando isso acontecerá.

Com tanta indefinição, a Anac pediu, em fevereiro, a caducidade do contrato por falta de pagamentos. A medida foi um dos gatilhos para o pedido de recuperação judicial. “Com o processo em andamento, a empresa agora tem uma folga, de 180 dias, sem poder ser cobrada por dívidas anteriores, sofrer pedidos de falência e perder a concessão por caducidade”, diz Paulo Nasser, sócio do escritório Miguel Neto Advogados. “Ela terá cinco meses para apresentar e conseguir aprovar com os credores uma plano de recuperação.” A Azul, principal companhia aérea a operar com passageiros no aeroporto, acompanha de perto o desenrolar da história. “A recuperação vai dar uma aliviada no dia a dia”, afirma John Rodgerson, CEO da Azul. “É triste que chegou a esse ponto, mas as brigas judiciais só atrapalhavam.”

Os motivos por trás dessa situação vão além do envolvimento das empreiteiras com a Lava Jato. Procurada pela DINHEIRO, a concessionária alega, em nota, que a crise econômica levou à não materialização das projeções de crescimento da aviação. Em 2011, os estudos previam que Viracopos receberia 16 milhões de passageiros em 2017. Mas a realidade trouxe apenas 9 milhões. Com isso, a concessionária pagou R$ 3,82 bilhões pelo direito de operação e mais de R$ 3 bilhões em obras e na melhoria de serviços. E agora depende de uma renegociação das dívidas contraídas para fazer esses investimentos como única forma de continuar operando o aeroporto.

Em comunicado recebido após o fechamento da edição, a Anac informou que a apólice da concessionária de Viracopos com a seguradora Swiss Re vence no dia 25 de maio. Caso a apólice não seja renovada ou a concessionária não apresente outra apólice válida à ANAC, será mais um descumprimento contratual por parte da Concessionária de Viracopos, e isso enseja em sanções administrativas. “A decisão de recomposição e de renovação de uma apólice de seguro é única e exclusiva da seguradora, não sendo competência da ANAC interferir nesse processo”, diz o comunicado. Além disso, a ANAC estipulou, no dia 20 de fevereiro, multa de R$ 60 milhões pelo não cumprimento das ampliações previstas no contrato de concessão do aeroporto, que vão se somar aos R$ 200 milhões de outorgas  a vencer neste ano.

Compartilhe

Prezados Clientes

O Miguel Neto Advogados informa que não utiliza meios eletrônicos não oficiais para solicitação de pagamento de guias judiciais ou de qualquer outra natureza. Para garantir a segurança de suas transações, ressaltamos que todas as solicitações são realizadas por canais oficiais de comunicação, através do nosso corpo jurídico ou administrativo.

Caso receba qualquer comunicação suspeita ou não usual em nosso nome, pedimos que entre em contato conosco imediatamente para verificar sua autenticidade. Nosso canal oficial para questões financeiras é o e-mail financeiro@miguelneto.com.br e o telefone 
+55 (11) 5502-1200

Desde já agradecemos sua compreensão.

Atenciosamente,
Miguel Neto Advogados

Qualquer questão ficamos à disposição!