Era para ser um dia de trabalho comum para a, até então, talent experience de Recursos Humanos Ana Eliza Nascimento, de 22 anos. Na véspera, ela teve uma conversa interessante com sua superior imediata sobre uma possível promoção, e estava empolgada com os novos planos. Acontece que, assim que iniciou o expediente, ela foi chamada em uma reunião para receber a infeliz notícia: estava demitida.
O aviso já veio seguido de papel e caneta para Ana assinar a homologação de seu contrato. Em poucos minutos, ela já estava até mesmo com o encaminhamento para os exames demissionais, marcados para a mesma semana.
A motivação da demissão seria uma reestruturação na sua área de atuação. Com a descentralização de todas as equipes, a empresa não via mais a necessidade de manter o cargo que ela ocupava.
“Não foi considerado uma possível relocação em outra área. Não foi possível dialogar comigo […]. Me senti extremamente descartável”, relatou Ana Eliza, em um longo desabafo que fez no Twitter.
Ao Terra, Ana Eliza conta que ficou confusa e precisou repensar seus planos imediatamente.
“Senti um aperto no peito muito grande e na hora comecei a chorar, não consegui evitar. Fui pega de surpresa realmente”, desabafa. “Eu tinha muitos planos que precisavam do salário e tudo foi arrancado de mim naquele instante”.
Ana relembra que, em outra empresa, já ocupou o cargo do profissional responsável por demissões. Segundo sua experiência, é possível demitir com mais transparência e espaço de diálogo com o profissional.
“Demissão desumanizada”
A demissão de Ana, que ela apelidou de “desumanizada“, levantou as seguintes questões: o que as empresas devem fazer no momento de demitir um funcionário? Será que condutas impessoais, que beiram o constrangimento, podem ser punidas judicialmente?
Conforme explica a advogada trabalhista Marília Grespan, do escritório Miguel Neto Advogados, não existe na legislação trabalhista um regramento que especifique como uma demissão deve ser realizada. No entanto, o empregado que se sentir prejudicado ou exposto ao longo do processo demissional pode pleitear uma compensação por danos morais na Justiça do Trabalho.
Ainda que não haja uma legislação própria para esses casos, a advogada ressalta a importância de que o a demissão seja conduzida da forma mais respeitosa possível. Isso inclui esclarecimentos sobre os motivos da demissão.
“É importante que todas as dúvidas do empregado sejam esclarecidas, e que a empresa dê o suporte necessário quanto ao término do contrato”, diz a advogada.
Até o último minuto
A diretora de Recursos Humanos Pollyanna Cavalcanti, que atua na Avantia, uma empresa de tecnologia e segurança, explica que hoje o mercado corporativo tem valorizado a “demissão humanizada”. O motivo é a compreensão, cada vez maior, de que a experiência do funcionário deve ser levada em consideração até o último minuto que ele passar na empresa.
Esse processo deve ser conduzido preferencialmente de maneira presencial. Quando não for possível, devido a alguma questão geográfica, pode-se utilizar recursos de vídeoconferência, mas nunca WhatsApp ou e-mail.
“A tecnologia não substitui o contato humano, e nessas horas é importante demonstrar o cuidado necessário com o profissional, esclarecer dúvidas e oferecer ajuda num processo de recolocação, quando possível”, orienta.
Transparência é a chave
Pollyanna Cavalcanti defende ainda que a transparência seja o fio condutor de todas as relações de trabalho. Desde a admissão até a demissão, as expectativas de ambos os lados precisam ser alinhadas.
“Ao contratar um profissional, as organizações precisam deixar claro o que se espera deste novo colaborador, sua função, suas metas, entregas e quais comportamentos desejados”, exemplifica.
No dia a dia, o ideal é que as empresas adotem rotinas de comunicação e feedback constantes, para que nenhum susto seja tomado se houver uma possível demissão.